Entre Vozes e Silêncios: A Jornada de A Pequena Sereia

Por: Julia Duque Estrada 6 de julho de 2025

Assistir à nova versão de “A Pequena Sereia”, que traz uma protagonista negra de cabelos trançados, é dessas experiências que nos elevam a um estado de graça. À graça da pré-adolescência, quando assisti pela primeira vez ao desenho da sereia ruiva que trocou a própria voz por um par de pernas para caminhar pelo mundo “acima das águas”, afirmar a própria… voz (!) e, enfim, viver (n)o Amor. Do que você é capaz para se lançar na jornada da busca de si mesma(o) ? O que te diferencia da família, do reino (des)confortável da infância?

Essa história me fisgou, como anzol trazendo à alma o canto das sereias. Pressentia a necessidade de enfrentar o que Jung chama de “processo de individuação”. “O que eu faria / Se pudesse viver/Fora dessas águas/O que eu pagaria/Para passar um dia /Aquecida na areia?”

Virou meu conto de fadas predileto, do original de Hans Christian Andersen (1837). Mas existe outro aspecto (além da evidente busca do amor e de si mesma/o) que me parece muito significativo. É a necessidade de integração de um feminino banido, não escutado, ao reino do patriarcado. Isso fica claro na feiticeira “medusa” Úrsula, irmã do Rei Netuno-Tritão, que representa um feminino ressentido, porque renegado. Úrsula é um aspecto da grande mãe, feita de luz e sombra, que precisa ser integrado dentro de cada um(a) de nós.

É justamente a partir do embate com esse aspecto do feminino (que nos fala da morte, dos estranhos q nos habitam) que o masculino torna-se mais flexível e consciente da própria impotência e imperfeição. Somente após encarar Úrsula que Tritão consegue escutar o chamado de Ariel. Só assim, feminino e masculino se abrem a um novo reino, de mais integração, amor e respeito às diferenças.

“Aposto que na terra /Eles entendem. Aposto que eles não reprimem suas filhas/ Moças brilhantes/Cansadas de nadar/Prontas para se erguer”, cantava a ingênua Ariel. Até aprender a lutar pra (re)afirmar seu canto.

Neste mundo de iminente desastre planetário, seria interessante ouvirmos o canto de Ariel. E de Úrsula. Para que consciência e inconsciente, reinos da Terra e da água, masculino/animus e feminino/anima, possam, enfim, cantar juntos.

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